Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não dá mais pra segurar: falta de água já causa danos na economia de cidades e empresas paulistas

Uma crise ampla. Assim é o cenário definido por representantes de prefeituras e órgãos de desenvolvimento regional como consequência da falta de água no estado de São Paulo. Desemprego e problemas em atividades econômicas diversas já atingem cidades e empresas na bacia dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari (Bacia PCJ) e na região metropolitana. Secretários municipais relatam que o governo estadual envia poucos dados sobre a situação e que a Sabesp não é transparente na divulgação de informações, o que aumenta a dificuldade de fazer planejamentos.

As colocações são coerentes com os dados levantados pela Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) – únicos dados disponíveis – que apontam duas em cada três empresas com temor de falta de água e fechamento de, ao menos, 3 mil postos de trabalho. Com o agravamento da crise, as perspectivas são de piora do cenário.

No último dia 11, a Sabesp admitiu que precisará utilizar a água do volume morto do Sistema Alto Tietê, que vinha sendo usado para suprir parte da demanda de 8 milhões de pessoas atendidas pelo Sistema Cantareira, na capital e na região metropolitana de São Paulo. O volume normal do Cantareira acabou há duas semanas e a água do volume morto deve durar até outubro, caso a estiagem continue, segundo dados da companhia.

O trabalho indica que o risco de falta de água, ainda este ano, é um fator de preocupação para 67,6% das 413 indústrias ouvidas na pesquisa. O levantamento foi feito com 229 empresas de micro e pequeno porte (até 99 empregados), 140 de médio porte (de 100 a 499 empregados) e 44 de grande porte (500 ou mais empregados). As empresas de grande porte são as que revelaram mais preocupação: 75% delas temem que a falta d'água prejudique operações.

A pesquisa, divulgada na última sexta-feira (18), revela ainda que foram fechados mais de 3 mil postos de trabalho na região da Bacia PCJ. A redução do ritmo da produção das indústrias pela falta de água é o grande motivador das demissões. De acordo com a Fiesp, a tendência é que o quadro se agrave nos próximos meses.

O diretor do Consórcio Intermunicipal Grande ABC Hamilton Lacerda revelou que os municípios têm dificuldade em obter retorno dos ofícios enviados à Sabesp. “Estamos tendo muita dificuldade em levantar dados. Nós temos um problema para fazer esse diagnóstico porque o sistema está completamente centralizado nas mãos da Sabesp. E a gente sabe que essa é uma informação que pode trazer prejuízos políticos, ainda mais em um ano eleitoral”, avaliou.

No início de março, o prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida (PT), reclamou que fora informado por e-mail, com apenas 48h de antecedência, sobre a decisão da Sabesp de cortar parte do fornecimento de água para a cidade. A companhia alegou que o município não realizou uma redução satisfatória no consumo.

Guarulhos já tinha um déficit de 10% na relação entre consumo e disponibilidade de água. No município, mais de um milhão de pessoas sofrem com o racionamento.

Para Lacerda, a falta de água pode comprometer tanto questões sanitárias quanto econômicas. “A crise de abastecimento pode prejudicar o desenvolvimento das empresas e dos serviços, colocando em xeque a qualidade de vida da população."

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Bragança Paulista, Hilmar de Moraes, confirma a situação na região da Bacia PCJ. “Temos dados empíricos. São informações passadas pelos moradores e comerciantes da cidade”, afirmou.

O problema não se dá somente pelo fornecimento de água, mas pelo esvaziamento da represa Jaguaribe, uma das cinco que compõe o Sistema Cantareira. A represa tem 30 anos, mas não recebeu nenhum tipo de manutenção ou investimento nesse período. Para Moraes, é preciso observar que, além do fornecimento de água, estão em risco o empreendedorismo, os empregos e o turismo da região.

O secretário garantiu que atividades de pequeno porte, como transporte e passeios de barco, hotelaria e serviços sofrem com a seca direta da represa. “Temos ali cerca de mil barcos e cinco pousadas que sobreviviam de turismo náutico. Isso gerava até dois mil empregos diretos. Algumas pousadas e restaurantes demitiram todos os empregados. E isso mobilizava parte do comércio, supermercados, postos de gasolina, oficinas”, descreveu Moraes.

A cidade tem 154 mil habitantes. Dois mil postos de trabalho fechados podem ter um impacto considerável na população. Moraes defende que se deve avaliar o momento como sendo uma "crise ampla", que pode se alastrar pelo estado. “Essa situação é muito séria. Se a pessoa que tinha uma pousada não tem mais, ou a que era funcionário não é mais, o que resta? Ir embora para os centros urbanos. E aí vão viver como dá. Como se define isso? Crise. A seca nas represas em São Paulo é uma crise ampla e real”, ressaltou.

Essa dificuldade em obter dados é generalizada. E se alia ao fato de que as empresas, sobretudo as de grande porte, evitam falar em problemas de ordem econômica, que poderiam afetar confiança e valorização no mercado financeiro.

O diretor do Ciesp em Campinas, José Nunes Filho, disse que as empresas e os 43 municípios que compõem a região da Bacia PCJ são afetadas. “Nós, como bacia doadora, fomos tremendamente afetados. A concessão de outorgas está suspensa e isso prejudica o investimento. Novas empresas não vão se instalar se você não tem garantia de água disponível.”

Segundo o diretor, empresas de grande porte do polo petroquímico de Paulínia correm riscos sérios, porque são "hidro-dependentes". São refinarias que recebem e reenviam petróleo e derivados para todo o Brasil. E não há refino de petróleo sem água. “Afetaria todo o sistema econômico”, destaca.

Nunes também não poupou o governo Alckmin de críticas pela demora em admitir o problema ou em reagir a ele. “Um avião cai não só por um problema, mas por uma série de problemas. A estiagem é um problema natural, que se deve ser capaz de prever, mas as medidas para evitar esse problema não foram tomadas."

Em Piracicaba, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Tarcísio Mascarim, explicou que a cidade não tem falta de água, pois faz a captação direta em dois rios. No entanto, o município tem dificuldades para produzir alimentos. “Temos várias formas para irrigar, mas a falta de chuvas e de água em boa disponibilidade pode levar a um aumento dos custos e isso pode promover aumento do preço dos alimentos”, avaliou.

Mascarim comentou que a produção de cana para combustíveis e açúcar sofreu uma redução sensível, passando de 40 milhões de toneladas em 2013 para 32 milhões neste ano. Uma redução de 20% no volume produzido, que afeta tanto o fornecedor quanto as usinas que produzem açúcar e álcool.

Em Atibaia, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lívio Giosa, ressalta que “a situação é muito preocupante”. “É lógico que temos risco de desemprego. Não temos nenhuma situação específica, mas está claro isso. Se as empresas começam a ter problemas, nós logo teremos”, completou.

Giosa é mais que avalia negativamente a gestão da água no governo Alckmin. Para ele, a administração tucana não age diante da crise. “O problema é muito sério e as autoridades públicas estaduais não estão se posicionando. Não tem nenhuma discussão sobre alternativas, a não ser ficar esperando chover."

Ele também ressaltou que os problemas com o abastecimento levaram as empresas a buscarem alternativas de emergência, utilizando carros pipa ou mesmo abrindo poços artesianos para não depender do sistema de água. “É um absurdo a gente chegar nessa situação”, enfatizou.

O secretário também atacou a cobertura da situação pela mídia. Para ele, o assunto é tratado superficialmente. “A única instituição que pode fazer com que esse assunto seja colocado em pauta prioritária é a imprensa. Deveriam estar 24 horas cutucando as autoridades: o governador, a presidente da Sabesp, diretorias de agências reguladoras”, argumentou.

(Blog da Helena)

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