Jorge Paz Amorim

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Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Vento da incompetência varre o pó da mesa do presidenciável desastrado

As eleições gerais de 2014 serão amargas para Aécio Neves, independentemente de seus resultados. O mito de superfície criado em torno de seu ativismo político vai cair como um castelo de cartas. Ele sairá do processo eleitoral conhecido. E talvez seja essa uma de suas duras derrotas.

A entrevista de seu marqueteiro, Paulo Vasconcelos, ao Valor Econômico (16/04/2013, na íntegra, abaixo), é um dos saborosos materiais que expõe a vacuidade do neto de Tancredo Neves, em termos políticos e eleitorais. É um material que, sobretudo, desqualifica o peso do tucanato paulista, inventando um super herói mineiro.

Ele teve voto, e muito voto, nas últimas eleições? Sim. À base de uma poderosa máquina de promoção pessoal, no controle da imprensa mineira e num processo inédito de cooptação política, acadêmica e empresarial. Antes disso, o que se fala dele é blefe.

Desmontando os números de seu marqueteiro:

1) “O cara é eleito em 1986 com a maior votação do Brasil, depois é reeleito quatro vezes deputado federal”.

Duas mentiras numa só frase: Aécio teve 236.019 votos em 1986. No mesmo ano Lula teve 651.763 em São Paulo, seguido de Ulysses Guimarães (590.873) e Afif (508.931).

Minas Gerais tinha metade do eleitorado de São Paulo. Portanto, nem em termos absolutos, nem proporcionais ele foi o campeão.

Se formos ao Rio Grande do Sul, que tem a metade dos eleitores de Minas, aí a coisa complica para nosso marqueteiro estatístico: em 1986, Mendes Ribeiro (PMDB) fez 325.173 votos, seguido de Antônio Brito (PMDB) 305.659. No Rio de Janeiro, Álvaro Valle teve mais de 300 mil votos naquele ano.

Se cavoucarmos mais um pouquinho, acharemos outros eleitos, nos demais estados, com votações percentuais maiores do que “o cara” tucano. Ah, ele não foi reeleito quatro vezes.

2) Detalhes: Aécio obteve essa votação no rastro da agonia terminal do avô. Um ano antes, de 14 de março a 21 de abril, o drama de Tancredo Neves foi de tal intensidade que ele, Aécio, e Antônio Brito (RS), o porta voz da agonia, foram os que capitalizaram eleitoralmente esse acontecimento.

E mais: ele também foi beneficiário das duas coligações que disputaram – de fato – o governo mineiro em 1986. Ele era do PMDB, com Newton Cardoso liderando a chapa vitoriosa ao governo; e tinha apoio na outra coligação, já que seu pai, Aécio Cunha (PFL) era vice de Itamar Franco. Tanto é verdade que ele, na eleição seguinte (1990) obteve magros 42.412 votos para deputado federal.

3) Na sequência da mesma resposta, o marqueteiro, além de inventar um mandato de deputado federal, ainda criou uma liderança de bancada que nunca existiu, pelo menos na extensão vista por ele: “Das quatro, foi reeleito e era líder de seu partido, chega à Presidência da Câmara e faz uma gestão inédita”.

Ele foi eleito pelo PMDB e depois pelo PSDB. Diga-se de passagem: em 1994, com FHC e o Plano Real em voga, ele faz 105 mil votos e, em 1998, com a máquina federal (em Minas) na mão, ele faz 185 mil votos. Ou seja, o outrora campeão de votos, que nunca o foi de fato, não é lá essas coisas assim.

4) “Depois, vira candidato a governador de Minas e vence no primeiro turno, coisa que nenhum candidato na história tinha conseguido. Pega um Estado quebrado, inventa um troço maluco(sic) que é o tal do choque de gestão. É eleito o governador mais bem avaliado do Brasil. Três anos depois se reelege com 77% dos votos válidos, ou seja, de cada 100 mineiros, 13 não votavam nele.”

Aqui temos umas mentiras, outras imprecisões, exageros e algumas confusões.

Ele ganhou, sim, no primeiro turno, para governador de Minas, “coisa que nenhum candidato na história tinha conseguido”. De qual história se fala? De três eleições disputadas com dois turnos antes. De 12 anos de experiência.

E pegou um estado, de fato, quebrado: por Azeredo e FHC. Teve o apoio de Itamar Franco – a vítima do estado quebrado – e, em sua campanha ao governo de Minas Gerais, abandonou seu candidato a presidente, José Serra, evitando a polarização nacional. Alegava Aécio que Itamar apoiava Lula e ele não poderia abrir uma crise com seu apoiador mais forte. Aliás, como fará em 2006 e 2010.

Mas, mesmo assim não poderia ser eleito “o governador mais bem avaliado do Brasil”; o que seria ilógico. Ou será que já era avaliado antes mesmo de governar? A frase seguinte tem um erro básico de soma aritmética: “Três anos depois se reelege com 77% dos votos válidos, ou seja, de cada 100 mineiros, 13 não votavam nele.”

Na ansiedade da bajulação, 10 mineiros – em cada 100 – são eliminados da conta do marqueteiro. Detalhe: seu sucessor, Antônio Anastasia entregou a seu vice agora, um estado quebrado, endividado, desorganizado na saúde, na educação, na segurança, no meio ambiente e com o “troço maluco” (piada pronta) revelando-se uma farsa.

5) Ah, na primeira resposta ele ainda soltou essa: “Um sujeito (Aécio) que tinha mais de 50 pontos de ótimo e bom e que durante todos os sete anos e meio de governo a pior avaliação que ele deve ter tido foi de 88% e a melhor, acima de 92%.”

Uma rápida pesquisa nos buscadores de internet, desde 2003, mostrará que o moço não trata os números com rigor. Exemplo, o Data Folha registrou 41% de aprovação nos três primeiros meses de governo em 2003 (quando o eleitorado é mais condescendente); em 2004, segundo o insuspeito instituto, Aécio estava com 60% de aprovação (atrás de Jarbas Vasconcelos e Alckmin). Em 2007, sua aprovação (que era alta, de fato) foi de 71%. Portanto, essa de que em 7,5 anos de governo, a pior avaliação de Aécio teria sido de 88% só pode ser coisa para irritar tucanos paulistas.

6) O resto da entrevista é mais do que risível. Como são opiniões e não números (ele seria percebido pela população, com o carisma de Lula e a capacidade de gestão de FHC – sic), paro por aqui. O marqueteiro de Aécio Neves não é um “ponto fora da curva”. Os apoiadores de Aécio, no geral, difundem essas bobagens.

Aécio, Eduardo, Pastor Everaldo ou qualquer dos outros candidatos de oposição podem até ganhar. No caso de Aécio, isso não será devido à sua carreira política e à sua história pessoal.

(por Luis Carlos Silva, especial para o Viomundo)

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