Jorge Paz Amorim

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Belém, Pará, Brazil
Sou Jorge Amorim, Combatente contra a viralatice direitista que assola o país há quinhentos anos.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabo vive!

"Não obstante, os progressos da navegação que reduziram as distâncias entre nossas Américas e a Europa parecem haver aumentado nossa distância cultural. Por que a originalidade que é admitida sem reservas em nossa literatura nos é negada com todo tipo de desconfiança em nossas tentativas tão difíceis de mudança social? Por que pensar que a justiça que os europeus desenvolvidos tratam de impor em seus países não pode ser também um objetivo latino-americano, com métodos distintos e em condições diferentes? Não: a violência e a dor desmedidas de nossa história são o resultado de injustiças seculares e amarguras sem conta, e não uma confabulação urdida a três mil léguas da nossa casa. Mas muitos dirigentes e pensadores europeus acreditaram nisso, com o infantilismo das avós que esqueceram as loucuras frutíferas de sua juventude, como se não fosse possível outro destino além de viver à mercê dos dois grandes do mundo. Este é, amigos, o tamanho de nossa solidão".
Esse balaço certeiro no coração do colonialismo imperialista, disparado por Gabriel Garcia Marquez em seu discurso na solenidade da Academia Sueca que lhe outorgou o Prêmio Nobel, deve ser lembrado não só quando pranteamos o falecimento do mais extraordinário escritor dessas Américas. Todavia, é preciso fazer disso um mote da inconformidade que deve orientar a nossa condição de cidadãos e cidadãs contra os que querem nos dominar, bem como contra os prepostos infames das direitas políticas aqui existentes.
Felizmente, Gabo partiu vislumbrando a semente plantada pelos bravos de Sierra Maestra dando frutos em inúmeros exemplos de construção de projetos populares necessários que citou em seu discurso. Lula, Mujica, Kirschner, Chavez, Correa, Bachelet, entre outros, atingiram o nível de distanciamento daquela resignação à miséria que nos condenava a viver "à mercê dos dois grandes do mundo". Mas, o nosso primeiro combate deve ser contra aqueles que sucumbiram prematuramente ao domínio imperialista porque não são as vítimas da miséria que essa relação fabrica. Contra eles nossa luta deve ser diuturna e intensa a fim de fazer ver que essa condição não é uma fatalidade do destino, e sim fruto "de injustiças seculares e amarguras sem conta" de que fala o autor de 'Cem Anos de Solidão'.
O dia que os povos de nossas Américas tiverem a oportunidade de deleitar-se sem reservas com a nossa literatura, como fazem os europeus, então, estaremos vivendo naquele mundo sonhado por gênios como Gabriel Garcia Marquez.

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